sexta-feira, 13 de julho de 2007

nasce o rap

Na segunda metade dos anos 70, um novo tipo de música surgia, a Disco Music, que elegeu as Discotecas como seu reduto. Os caras que tocavam os discos para o pessoal desse bailes, nessa época, eram chamados de Discotecários. Existiram alguns famosos como é o caso do já falecido Monsier Lima, do Rio de Janeiro e Alcir Black Power, que apesar de também ser carioca, criou fama em São Paulo com seus bailes regados a James Brown e George Clinton.

No começo dos anos 80, surgiram várias equipes de bailes, as chamadas Equipes de Som, cada uma capitaneada por um DJs que não fazia grandes mixagens, porque na época vinil não chegava por aqui. As importações eram proibidas e os bailes eram feitos com fitas de rolo piratas. Muitas delas, chegavam sem os nomes das bandas e das músicas, o que tornava impossível sua identificação, os DJs dessa época apenas rolavam o som. Eram poucos os que dominavam a arte de mixar duas músicas, as famosas viradas. As remixagens ou montagens como eram chamadas na época, eram feitas com gilette e fita adesiva. Isso mesmo! As fitas eram gravadas, cortadas e coladas artesanalmente. Era um trabalho árduo e muito, muito difícil de se fazer.Os primeiros DJs eram verdadeiros artesões da música."


O lendário DJ Rock Master Scott

O funk da época era chamado de "balanço". Termo cunhado pelas gravadoras que tentavam popularizar o ritmo que era taxado de música de negro pobre.

Em 1979, vimos surgir nas rádios e nos bailes um ritmo novo. Uma música batizada de "Melô do tagarela " que tornaria-se mania nos rádios e bailes e dominaria a cena por seis longos meses. Era o Sugarhill Gang, que acabará de lançar a música "Rapper`s Delight" com seus longos 14 minutos de duração. Um fenômeno para a época. Seguiu-se uma avalanche de grupos de rap no formato antigo, onde as letras falavam de festas e garotas. Não havia ainda a crítica social nas letras. Isso só veio a ocorrer em 1983, com o grupo Grandmaster Flash and The Furious Five, na música "The Message".


Esta é o rappper pioneiro King Tim III.

Mas Rapper Delight não foi o primeiro rap a ser gravado nos Estados Unidos. Dois outros artistas gravaram raps antes do Sugarhill Gang. O primeiro foi Pigmeat Markham em 1967. Isso mesmo, não há erro! Pigmeat gravou a música Here comes the judge em 1967. O segundo artista a gravar um rap antes do Sugarhill Gang foi o rapper King Tim III (veja foto) com o auxílio do grupo Fatback Band. A música chamava-se Personality Joke.

Rap brasileiro na virada dos anos 70 para 80

Muito se diz sobre qual foi o primeiro rap feito no Brasil. Gerson King Combo, já em 1977, fazia um soul com falas que lembrava muito o rap, mas não podemos considerá-lo um rap na essência do termo. O showman Miele gravou em 1979, uma versão de "Rapper`s Delight" do Sugarhilll Gang chamada "Melô do Tagarela".
A rádio Cidade FM (Atual Sucesso FM) de São Paulo lançou um rap em comemoração a sua entrada no ar, em 1980. Posteriormente, regravaram o mesmo rap com outra letra, em São Paulo e Rio de Janeiro, em 1981. Essa nova versão foi lançada em um compacto chamado "Tema de Natal da Cidade" que era um belíssimo rap, com a voz de seus locutores (naquele tempo locutor de rádio tinha que ter boa voz).
O produtor, compositor, radialista, empresário e apresentador de TV Mister Sam produziu, em 1980, um disco de um cantor chamado Baby Face (primeiro pseudônimo do cantor Nahim) com um rap chamado Don`t push, dance, dance, dance.

Electric Boogies

O grupo de Break e rap Electric Boogies gravou Break Mandrake em 1983.

Um dos grupos surgidos no início dos anos 80, que trilhou um caminho diferente, foi o Eletro Rock. Formado por jovens de classe média de São Paulo e Santo André, no ABC paulista, falavam em suas músicas de festas, garotas e esportes radicais. Um exemplo é a música Surf, de 1985. Um dos integrantes do Eletro Rock era o rapper Catito, que posteriormente fez parte de coletâneas de equipes de bailes como Kaskatas e Chic Show, cantando sozinho.

Depois disso, surgiram avalanches de grupos reivindicando o título de número um. Mas Miele ainda é considerado o primeiro artista brasileiro a gravar um rap no Brasil. E isso foi há mais de 25 anos. Recentemente, foi lançado na Inglaterra, um LP duplo chamado BLACK RIO, que tenta mapear o fenômeno black no Brasil, mais precisamente no Rio de Janeiro, nos anos 70. A música "Melô do Tagarela" está nesse disco, em sua versão instrumental. Mielle foi o primeiro artista a gravar um rap, mas Miele não era um rapper e sim um compositor e apresentador de TV. O primeiro grupo genuíno de rap a gravar um disco, nascido no movimento hip hop americano e formado no Brasil foi o Electric Boogies. Dois de seus membros moraram nos Estados Unidos no início dos anos 80, e tiveram contato direto com a fonte e a cultura hip hop que moldava-se na época, em Nova York.

Rap em São Paulo

Muito antes de Thayde e Dj Hum ou Racionais MCs, vários grupos de rap já atuavam no cenário underground brasileiro, em especial em São Paulo e Rio de Janeiro.

Em 1982, um núcleo de criação de rap foi formado em Santo André, no ABC paulista. Alguns amigos, que se conheceram em bailes e rodas de break, encontraram-se informalmente na casa de um deles para trocar informações e músicas Naquela época, não havia mp3, não havia cds, não havia internet, nem revistas especializadas. As informações passavam de boca a boca.

Esse grupo era formado por Rogério "Vermelho" Riese (dono da casa onde se reuniam), Marcio "MC L" Eufrosino, Marcelo "MC Mike" Rodrigues e Antonio "MC Brown" Cabrera.

No início, os raps eram criados apenas por brincadeira, geralmente fazendo piada de alguma situação. Todos contribuiam com suas letras e as músicas eram gravadas em um gravador caseiro Sanyo com microfone embutido. "Vermelho"era o DJ oficial. Posteriormente o sistema de gravação melhorou e passaram a usar tape decks, pick ups e microfones melhores.

O primeiro rap a ser criado foi escrito por Marcelo e chamava-se "Black Papa". Em seguida, vieram outros raps em inglês que utilizavam a música "The breaks" de "Kurtis Blow" como base instrumental e também "The invasion" do raper "T Ski Valley".

Carteira de sócio da Danceteria Hollywood
Carteira de Sócio da Hollywood Danceteria, localizada no extinto Clube de Xadrez de Santo André, em 1984.

Em 1983, Marcelo e Cabrera gravaram sobre a base de "The breaks" um rap em comemoração ao aniversário da danceteria "Clube Xadrez", localizada no Vila Assunção, em Santo André. O DJ da casa era o lendário "DJ Zapp" que topou tocar a música na festa de aniversário da danceteria. Muita gente que dançava parou para ouvir um rap em português.

Em 1985, o "Xadrez" fechou suas portas e a galera mudou de endereço. Todos começaram a freqüentar o "CEV - Clube esportivo da Vila Vitória", também em Santo André. Alí, Marcelo, já utilizando o pseudônimo MC Mike, conseguiu convencer os DJs da casa a gravar com ele o tema da equipe "Tamantaurus". A base instrumental utilizada era "If I ruled the world" de "Kurtis Blow". A discotecagem da casa era ruizinha mas, como havia falta de opção para quem curtia black music, o pessoal ficou por alí uns tempos, até surgirem novas locais.

De São Paulo, MC Pepeu aparecia com sua versão da música "Big Butt" de "Bob Jimmy" que ganhou o título de "Pipoca".

Mike e Pepeu se juntaram e gravaram uma fita demo, com o auxílio do lendário "DJ Gege" da extinta danceteria "Sunshine". O nome da música era "Bastião" e utilizava como base a música "Fly guys" do grupo "Magic Trick".

Surgia em 1984, o grupo "Electric Boogies" formado por dançarinos de break de Santo André que gravaram o single "Break mandrake".

Miele já havia gravado um rap em 1979, mas era apenas uma brincadeira sobre a sucesso "rappers delight" do "Sugarhill Gang". Miele não era um rapper de verdade.

O "DJ Gege" da "Sunshine" juntou-se ao rapper "Toninho Ray" e gravou a música "I wanna happy birthday Sunshine" em homenagem ao aniversário da danceteria Sunshine com a base instrumental da música "Tie me up" do grupo "Mtume".

Mike, em seguida, gravou o tema de abertura do programa Super Special em 1985 que era apresentado por Serginho Caffé. No mesmo ano, participou de uma coletânea, com uma nova versão de "Bastião" com o novo título "Sebastian boy". A produção foi do DJ Grego .

Por outro lado, em 1986, Cabrera compôs "Falando Macio" e participou ao lado e Marcio "MC L" do concurso de rap da danceteria "Club House", antiga "Kaskatas". Era a primeira letra engajada do rap nacional. Não ganhou o concurso que foi vencido por "Fresh Puma" e seu fenomenal "human beat box".

No mesmo ano, Cabrera formou o grupo "Heroína Verbal" ao lado de Puma e seu irmão.

Electric Boogies
Mister Theo (esquerda)

Eliel "Mr Théo" Sobral, começou a cantar uma música de Cabrera chamada "Roleta Russa" com letra agressiva e politizada que fazia grande sucesso em seus shows. Theo já era conhecido nacionalmente pela música "Cerveja", uma versão de "Go see the doctor" de "Kool Moe Dee".

Mike apareceu com mais uma demo com a música "O Trem" que participou de uma coletânea, já no estilo Miami Bass.

Em 1998, Cabrera fez um show como DJ, junto com o grupo 'A Fúria", substituindo o DJ do grupo. Um guitarrista de nome "Russo", irmão do "MC Bacana" participou do show que foi marcado pelo estilo Miami Bass, típico do grupo "A Fúria".

Ainda em 1998, Cabrera foi ser DJ de uma nova casa noturna em Santo André, ao lado dos amigos Roberto, Marcelo e Toninho onde aperfeiçoou sua técnica de scratch, transformer schatch e mixagem.

Em 1989, Cabrera abandonou a discotecagem, só participando de festas exporádicas com seus amigos da "Good Time Team" e dedicou-se a sua carreira profissional como psicólogo e posteriormente como webdesigner, escritor e radialista.

Mike, desde os início dos anos 90, dedicou-se ao "Miami Base" e ao "Funk Carioca" , lançando 12 discos nesse estilo.

Mr Théo abandonou a música e nos últimos anos atuava como alfaiate em Santo André.

Rogério Riese, formou-se em engenharia e desde então não se envolveu mais com música.

Puma é grafiteiro profissional já tendo realizado diversos trabalhos e exposições.

O Rio de Janeiro e o rap

Em 1985, o Dj Marlboro apareceu em São Paulo para vários bailes e trouxe consigo algumas fitas com demos de grupos de rap cariocas. Já naquela época, o estilo miami bass era o mais utilizado pelos rappers do Rio. Um dos melhores rappers cariocas dessa época era "Afrika Batata" que cantava uma música autobiográfica, com letra cômica, sobre seu nascimento até a estréia como rapper. O rapper MC Tito (Tito Gomes) fazia parte dessa banda lendária. Também havia um grupo chamado "Funk Firmeza". Tito continua em atividade e é um dos rappers mais criativos do RJ, nos últimos anos.

Marlboro produziu um rap sobre a base instrumental da música "O quê?" dos Titãs. A letra dessa música falava de preconceito contra as pessoas que curtiam funk na época. O vocal ficava a cargo do rapper Move (Marcelus), membro do Africa Batata.

Exemplos como os citados aqui ocorreram no país inteiro e ao mesmo tempo, portanto, é quase impossível identificarmos onde realmente o rap nacional eclodiu pela primeira vez.

Referências musicais

Pigmeat Markham - Here comes the judge (1967)
King Tim III & Fatback Band - Personality joke (1979)
Sugarhill Gang - Rappers delight
(1979)
Miele - Melô do tagarela (1979)
Baby Face (Nahim) - Don`t push, dance dance dance (1979)
Equipe Rádio Cidade - SP - Tema da Cidade (1980)
Electric Boogies - Break mandrake (1982)
Grandmaster Flash & Furious Five - The message (1982
Equipe Rádio Cidade - RJ - Tema de natal (1982)
Mister Theo & Billy - 16 toneladas (1985)
Eletro Rock - Surf-
DJ Cabrera - Falando Macio - 1986
Heroína Verbal - Roleta Russa - 1987


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